Quando o cansaço é levado ao limite - O Síndrome de Burnout
Dra. Sara Loios
10/16/20236 min read
O Burnout. Uma palavra estranha mas que gradualmente se tem tornado tão comum nos nossos dias. Se antes pensávamos no Burnout como algo distante, longínquo e apenas associado a algumas profissões muito exigentes, hoje talvez possamos pensar no Burnout como algo próximo, que nos pode afetar a cada um de nós, independentemente da profissão que se exerce.
ARTIGO DESENVOLVIDO PELA
Dra. Sara Loios
Tal como em muitas outras áreas da nossa vida, a prevenção será sempre a nossa melhor defesa. Saber identificar os sintomas torna-se essencial para que se possa agir a tempo de mudar comportamentos, evitando que chegue ao seu próprio limite.
Por Burnout entenda-se uma perturbação causada pelo stress excessivo devido a uma sobrecarga ou excesso de trabalho. Pode-se pensar no Burnout como uma forma de resposta a situações permanentes e intensas de stress laboral, que terá maiores probabilidades de ocorrer quando a pessoa não utiliza estratégias adaptativas para lidar com situações de stress. Será essencialmente a exposição contínua a estas situações de stress, de forma recorrente, que pode efetivamente levar-nos a viver um sentimento crónico de stress, ou seja, ao Burnout.
De facto, sabe-se hoje em dia que o stress é já considerado como uma das epidemias do século XXI. A modificação dos tipos de trabalho a partir das décadas de 70 e 80, em que assistimos aos trabalhos a tornarem-se mais profissionalizados, burocráticos e isolados, com expetativas mais elevadas, não apenas das empresas em relação aos seus colaboradores, como também das expetativas internas, as que nos colocamos a nós próprios. Porém, é quando estas expetativas não são atingidas que pode surgir a frustração, a qual não sendo devidamente desconstruída, analisada, escutada pode, de facto, ser um enorme gerador de stress interno, o qual de forma continuada torna mais frequente os processos de cansaço físico e emocional.
O Síndrome de Burnout vai-se instalando progressivamente. Aos poucos o entusiasmo inicialmente sentido e idealizado através de uma entrega total ao trabalho, em que o trabalho era muitas vezes visto como uma forma, se não a única, de realização pessoal, passa a deixar de ser sentido como tão interessante ou excitante e de ser um substituto para tudo na vida.
Trata-se, portanto, de uma sensação de esgotamento emocional, em que a pessoa sente uma sobrecarga, que não aguenta mais, como se estivesse no seu limite, em conjunto com sentimentos de desvalorização pessoal, de incompetência pessoal e profissional, de desesperança, perdendo não poucas vezes o interesse e a motivação para o trabalho. Torna-se desta forma incapacitante, surgindo um sentimento de baixa realização profissional e, consequentemente, uma baixa satisfação com o trabalho, impedindo a pessoa de desempenhar as suas tarefas quotidianas.
Situações que envolvam esforço excessivo, curtos intervalos, elevada competitividade (desejo de ser e fazer o melhor entre os colegas de trabalho), pressão inadequada (desajustamento nas funções atribuídas, sobrecarga de tarefas, alterações no horário de trabalho), o mau ambiente no trabalho (entre colegas e chefias), assim como problemas pessoais, podem também contribuir para o aparecimento de sintomas.
A. Sintomas Físicos
· Sensação de cansaço frequente
· Alterações ao nível do sono
· Alterações ao nível do apetite
· Dores de cabeça ou musculares de caráter frequente
B. Sintomas Emocionais
· Falta de atenção e motivação
· Sentimentos de impotência: fracasso, derrota ou desamparo
· Ansiedade
· Frustração
· Solidão
· Negativismo
· Depressão
· Tédio
· Apatia
C. Sintomas Comportamentais
· Isolamento
· Dificuldade em cumprir prazos, começando a ser negligente ao nível do seu desempenho laboral
· Dificuldades ao nível da memória
· Irritação ocasional
· Falta de concentração
· Aumento de conflitos com os colegas
· Consumo excessivo de comida, álcool ou drogas
Tratando-se de um síndrome que pressupõe uma evolução, pelo que podemos pensar em três fases distintas:
Sinais de Alerta e Sintomas de Burnout
E como surgem esses sintomas?
Gradualmente, as pessoas vão começando a sentir alguma frustração, começando eventualmente a questionar-se sobre a sua eficiência no trabalho, a pertinência e o valor do seu trabalho. Por fim surge a apatia, em que a pessoa se sente permanentemente frustrada no plano profissional, mas o facto de sentir que precisa desse trabalho para sobreviver, leva-a a manter-se nele, mesmo sentindo-se exausta. Isso leva muitas vezes a que a pessoa acabe por trabalhar o mínimo de tempo possível, evitando ao máximo novos desafios.
A psicoterapia além de o ajudar a lidar com as suas emoções, permite essencialmente que a pessoa desenvolva um sentimento de autonomia e maior controlo sobre as suas escolhas, possibilitando o desenvolvimento da autoestima e de competências sociais. Trata-se sobretudo de um processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal que irá permitir obter inúmeros ganhos não só para a sua vida pessoal, como também para a sua vida profissional. Estamos aqui para si.
1. Fase do Aviso
Fase em que os primeiros sinais que surgem são os de natureza emocional como ansiedade, depressão, tédio, apatia, fadiga emocional. Fase onde pequenas mudanças na rotina da pessoa podem reverter os sintomas.
2. Fase dos Sintomas Moderados
Fase que surge após os sintomas da primeira fase serem ignorados, levando ao seu agravamento, trazendo consigo outros sintomas físicos como: distúrbios do sono, dores de cabeça, dores musculares, fadiga física e emocional, irritabilidade, isolamento e depressão.
3. Fase da Consolidação
Por fim, experienciam-se os sintomas como fadiga emocional e física generalizada, consumo excessivo de substâncias, pressão alta, problemas cardíacos, enxaquecas, redução de apetite, perda de interesse sexual, ansiedade, choro constante, depressão e pensamentos repetitivos. Nesta fase torna-se essencial o recurso ao apoio psicológico e por vezes, ao afastamento do local ou mudança de função no trabalho.
De uma forma resumida, o síndrome de Burnout caracteriza-se essencialmente por três dimensões, de carácter evolutivo:
1. Esgotamento emocional: Traduz-se num cansaço físico, psíquico ou em ambos. Sensação de sobrecarga.
2. Despersonalização: Desenvolvimento de sentimentos, atitudes, e respostas negativas. Atitudes de insensibilidade, desumanização da relação com o outro.
3. Baixa realização pessoal: Sentimentos de incompetência e/ou insucesso profissional.
O Papel da Psicologia
Assim que identificamos os aspetos que originam as nossas reações e compreendermos os estados emocionais em que nos encontramos, passamos a ter a capacidade de lidar com eles de forma consciente. Desta forma, podemos alterar e até sair de alguns estados emocionais que não nos são favoráveis.
Recorde-se que a responsabilidade de assumirmos o nosso autocuidado deverá ser apenas nossa. Somos nós os únicos responsáveis por organizar o nosso dia-a-dia de forma a assegurar que as tarefas mais importantes sejam priorizadas e por vezes há mesmo que repensar as nossas prioridades.
Neste sentido, partilho algumas atividades fundamentais para a sua saúde e equilíbrio emocional:
· Comece o dia com tempo: Quando planear o seu dia e as horas a que vai meter o despertador, permita-se ter o tempo necessário para acordar de forma gradual. Fique alguns minutos deitado, pode espreguiçar-se lentamente, meditar, ler algo que o inspire e deixar algum tempo para tomar um pequeno-almoço que lhe dê prazer.
· Mantenha uma boa higiene de sono: Durma as horas que sente que são as necessárias para recuperar a sua energia para enfrentar um novo dia.
· Adote um estilo de vida mais saudável: Tente praticar exercício físico com regularidade, comer corretamente e, novamente, dormir o número de horas suficiente.
· Cuidado com o uso excessivo das tecnologias: Tente desligar o seu telefone algum tempo antes de ir dormir. Aprenda a desfrutar da sua própria companhia. Invista nas suas relações sociais e familiares.
· Evite a excessiva consulta das suas redes sociais: Visitar constantemente as nossas redes sociais pode, por si só, gerar ansiedade. Muitas pessoas sofrem pela idealização de um mundo que, na maioria das vezes, não é real. Desejam atingir aquilo que é publicado pelos amigos, colegas ou mesmo desconhecidos. Esta comparação diária pode levar também ao Burnout, uma vez que acaba por desencadear um “desejo” por uma vida que não é aquela que sentimos que estamos a ter.
· Estabeleça limites: Aprenda a dizer que não! Ao aprender a dizer que “Não” a algumas coisas, vai permitir que comece a dizer mais vezes que “Sim” a si próprio e ao que verdadeiramente importa.
· Treine a sua Resiliência. Experimente algo novo, comece um novo projeto ou hobbie. Tente escolher atividades que não estejam relacionadas com o seu trabalho.
Estratégias de Prevenção do Burnout
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Até breve.