Oh… Perdi o caminho…? Perdi a minha bússola?

Espanta-se? Não, não…Já estou a ver no que está a pensar. Não tem a ver com ser forte, capaz e resiliente (como um material que não parte, mas antes oscila para voltar ao seu ponto de equilíbrio) …ou pelo contrário, fraco e pusilânime. Tem a ver com estar vivo e isso acontecer num mundo que de facto não é justo, não é igualitário e, sobretudo, muitas vezes, não é “friendly”, é cruel…

ARTIGO DESENVOLVIDO PELA

Dra. Graça Jara de Carvalho

A maior parte dos problemas psico-emocionais que nos afetam são respostas, mais ou menos adequadas ou desadequadas, aos dilemas que a vida nos coloca.

A Psicoterapia pode ajudar a transformar o sofrimento de uma crise em oportunidade, atenuando a sua dureza e solidão, proporcionando um tempo e um espaço protegido e acompanhado para se repensar e reencontrar um caminho… a bússola!

Algo acontece, externa ou internamente, ou ambas, e o equilíbrio do quotidiano é fortemente abalado e muitas vezes para sempre. São momentos disruptivos e críticos.

“ Eu era determinado ou antes tinha uma noção de quem era, e do que queria na vida, tinha os meus objetivos e metas para os atingir, mesmo sem saber que os tinha, acho que só agora que os perdi, sei que os tinha. E de forma insidiosa ou abrupta, já não sei, instalou-se em mim insegurança e desorientação, não sei para onde vou ou sequer se vou, sinto-me como que desconectado do mundo, se calhar uma defesa à tristeza e zanga que por vezes me assola…”

Tempos difíceis e de crise expondo a fragilidade das pessoas e assim tornando-as mais suscetíveis a problemas mentais e emocionais, entre outros, a crises de ansiedade na antecipação de acontecimentos negativos e de depressão nas vivências mais ou menos profundas: de perda; de desvalor; de tristeza; de vazio; e sobretudo, de ausência de sentido.

A origem filosófica da palavra crise vem do sânscrito kri ou kir e significa “purificar” (Boff, 2002). Na sua origem grega Krisis caracteriza-se por um estado no qual uma decisão tem que ser tomada (Moebus e Fernandes (s.d), 2007). Assim, podemos dizer que originalmente a palavra crise está carregada de elementos com amplo sentido: o de separação, mudança, desequilíbrio transitório com possível oportunidade de crescimento. Curiosamente os chineses, na sua sabedoria antiga, compõem o caracter Crise com dois símbolos um que representa perigo e o outro que significa ponto de viragem, e caso ela seja satisfatória torna-se em oportunidade.

Ao longo da vida encontramos momentos destes que nos fazem sofrer, e nos obrigam a parar e interrogarmo-nos. Damo-nos conta que perdemos o que julgávamos ter como adquirido e assente. Colocamo-nos em questão.

Poder-se-á dizer que todas as épocas da vida humana foram conturbadas. A que vivemos não é exceção. Numa era em que Finanças, Economia e Tecnologia conduzem o destino da sociedade em que vivemos, em quase duas décadas sucederam-se duas graves crises económicas. Em 2020, o inverosímil aconteceu: uma pandemia global. E mal recuperando deste susto e das suas consequências surgiu e está em curso outra ameaça: uma guerra na Europa com a invasão da Rússia à Ucrânia.

As consequências de todos estes fenómenos foram, e são, devastadoras e transgeracionais: o isolamento dos mais velhos; a vivência da população ativa de desemprego e da precariedade; o aumento da conflitualidade conjugal e familiar; os jovens adultos que não se conseguem autonomizar e as crianças e adolescentes privados de socializar. Como resultado: um somatório de Incerteza, de Medo, de Angústia e de Solidão.

Nestes últimos anos partilhas como esta são comuns em psicoterapia:

Não quero retirar ou desconsiderar o sofrimento humano inerente a estes estados de espírito pelo contrário, quero dizer que ele é legitimo, mas é duro, é difícil e é solitário.

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