O IMPACTO DAS PERTURBAÇÕES DA ALIMENTAÇÃO NA NOSSA AUTOESTIMA
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Dra. Sara Loios
10/8/20249 min read
Espelho meu, espelho meu...
Haverá corpo mais belo do que o meu?
“Quando deixará a comida de ser minha inimiga?
Quando terminarão a culpa e o medo?
Porque não tenho pensamento límpidos?
Porque não me deixam em paz?
O que significa ser normal?
Quero divertir-me e ser livre.
Quando dará a escuridão lugar à luz do dia?
Quando poderei gozar a existência?
Como posso matar estes demónios?
Estes monstros que me dilaceram a cabeça.
Como posso vencê-los de vez?
Desejo-lhes a morte”
CW
ARTIGO DESENVOLVIDO POR
Dra. Sara Loios


Da infância à idade adulta, parece que os problemas com a alimentação nos vão acompanhando ao longo do ciclo de vida.
Ou porque são os bebés que comem mal, as crianças que não conseguem ficar sentadas à mesa e são terríveis para comer, os adolescentes que lutam para ter uma imagem que corresponda aos padrões de beleza exigidos pela sociedade, os adultos que fazem de tudo para ter o corpo que sempre idealizaram, sobretudo quando se começa a aproximar o verão.
Tudo isto pode parecer normal, de facto quantos de vós estarão a pensar que é isto que se passa em todas as casas?
Que todos nós somos um bocadinho assim ou até que já passamos por isso?
E têm de facto razão, todos nós nos gostamos de olhar ao espelho e apreciar aquilo que vemos, sentirmo-nos felizes com o nosso corpo.
O que são afinal as doenças do comportamento alimentar?
Para a maioria de nós, o nosso valor pessoal é resultado da percepção do nosso desempenho em diversas áreas da nossa vida, como por exemplo, a qualidade do desempenho na escola, no trabalho, o modo como organizamos as nossas relações interpessoais, como desempenhamos os diferentes papéis sociais, o grau de eficácia e sucesso em atividades de lazer e desporto, etc.
No entanto, para as pessoas com perturbações alimentares, todas estas áreas aparentam ter um peso reduzido no modo como contribuem para a sua própria avaliação pessoal e no modo como se sentem em relação a si próprias, na medida em que tendem a avaliar-se quase exclusivamente com base na sua capacidade de controlar os aspetos relacionados com a dieta restritiva, com o peso e forma corporal.
Estes aspetos são um fator característico e distintivo das perturbações alimentares e são, eles próprios, um fator-chave na manutenção dos sintomas.
É perfeitamente natural que certos padrões alimentares nos vão causando alguma preocupação, quer enquanto pais, quer enquanto familiares ou amigos de alguém que limita e condiciona o tipo de alimentos que ingere.
No entanto, nem tudo deverá ser visto como um problema, como uma doença.
Este tipo de padrão alimentar poderá então designar-se de fome emocional, uma fome que não surge por sinais fisiológicos, que não é uma fome real, relacionando-se porém a fatores psicológicos, muitas vezes utilizada como forma de lidar com o cansaço ou stress, ou seja, que surge como um mecanismo de compensação face a emoções negativas.
O problema começa quando essa felicidade não chega, quando aquilo que vemos nunca é suficiente, quando os pensamentos depreciativos sobre nós próprios nos invadem ao ponto de recorrermos a medidas drásticas e extremas em função de um corpo idealizado, que nunca chega.
E é aí que começamos a culpar a comida, pois o que comemos afeta a forma como nos sentimos, as alterações que vamos observando no nosso corpo e na nossa saúde vamos atribuindo-lhe responsabilidades, surgindo deste modo os sentimentos negativos.
Importa então distinguirmos que as doenças alimentares têm a ver mais com uma visão negativa e distorcida de nós próprios do que com a comida e a sua ingestão.
Causas e fatores de risco
Na nossa sociedade, as causas associadas às doenças do comportamento alimentar são diversas e com origem em diferentes fatores. Constituem fatores de risco na adolescência:
Ser do Sexo feminino;
Tendência para dietas repetidas;
Temperamento perfecionista;
Ter sido alvo de comentários desagradáveis relacionados com o peso;
Ter baixa autoestima;
História pessoal marcada por lutos ou perdas;
Dinâmica familiar.
As pessoas com doenças do comportamento alimentar têm tendência para ser muito críticas em relação a si próprias, pensado que são inúteis, ou sem muito mérito. Esta autodepreciação manifesta-se através do desagrado em relação à aparência, à imagem corporal e à altura e é esta insatisfação que leva, por sua vez, a um comportamento alimentar que se torna problemático.
Em suma, mecanismos como o perfecionismo, a baixa autoestima, a intolerância emocional e as dificuldades interpessoais são referidos como contribuindo para a manutenção de todas as perturbações alimentares.
Quais são os sinais de alerta? A que deve estar atento?
Pedidos insistentes de dietas;
Fixação num peso ideal;
Obsessão com o conteúdo calórico dos alimentos;
Exercício físico intenso para controlar o peso;
Irregularidades menstruais;
Pedidos regulares de laxantes, diuréticos, ou inibidores do apetite;
Isolamento da família nos momentos das refeições.
O papel das emoções
A comida não é apenas nutrição.
É amor, carinho, afeto, celebração e toda uma série de emoções.
Quantos de nós já procurámos o refúgio na comida em momentos nos quais nos sentimos mais em baixo, mais tristes?
Porém, sem dar conta, é fácil entrar num ciclo vicioso.
Comemos quando nos sentimos tristes, escolhendo por vezes opções menos saudáveis, aumentando assim os níveis de gordura no corpo e, consequentemente, o nosso peso.
Este aumento de peso provoca novamente sentimentos de tristeza e desvalorização pessoal por não estarmos contentes com o nosso próprio corpo e aí, novamente, irá repetir-se o ciclo.
Quais são então as doenças mais comuns do comportamento alimentar?
1. Anorexia Nervosa
Talvez esta seja a doença alimentar mais conhecida.
A anorexia nervosa caracteriza-se por um grande desejo de perder peso ao ponto de adquirir a capacidade de ignorar e bloquear a sensação de fome.
As pessoas com anorexia nervosa evitam comer sempre que podem e, quando isso é impossível, tentam comer o menos possível.
Embora este comportamento partilhe o objetivo de perder peso, a grande maioria das pessoas que inicia uma dieta não desenvolve anorexia nervosa.
A questão essencial é que de facto não se trata apenas de restringir a ingestão de alimentos, mas todos os problemas e ansiedades mais profundas, que não são visíveis mas que estão lá, como um medo intenso de ganhar peso e de engordar, uma visão muito distorcida do próprio corpo e a autodepreciação geral.
Quem faz uma dieta que chamemos de “normal”, interrompe-a assim que perde algum peso ou, mais frequentemente, assim que se farta e não sofre certamente de uma autoestima tão baixa como é característica das pessoas com anorexia nervosa.
As pessoas com anorexia nervosa têm frequentemente uma tendência perfecionista.
Possuem uma inclinação para estabelecer objetivos muito exigentes e trabalham duramente para os alcançar.
A anorexia nervosa desenvolve-se normalmente em raparigas e mulheres jovens, entre os 15 e os 25 anos.
No entanto, a perda de peso e os sintomas físicos não são a única consequência, estando muitas outras complicações associadas a esta forma de restrição alimentar, nomeadamente a nível psicológico, onde começam a surgir questões como a apatia, dificuldades de concentração, alterações do humor e irritabilidade, que no seu conjunto irão influenciar de forma negativa a disposição e a energia necessárias à manutenção de relacionamentos interpessoais saudáveis.
Perante este quadro, vamo-nos sentido isolados, alimentando a crença de que ninguém nos compreende ou nos apoia, aumentando a nossa Auto depreciação.
2. Bulimia Nervosa
As pessoas com bulimia nervosa tendem a ter, aparentemente, um apetite devorador.
Manifesta-se pela tendência em ingerir, de forma exagerada, uma quantidade de comida que qualquer pessoa emocionalmente equilibrada consideraria excessiva.
São pessoas que após este comportamento se sentem profundamente culpadas e até enojadas consigo próprias, levando-as a livrarem-se da comida da forma mais rápida que consigam, provocando o vómito.
As pessoas com bulimia nervosa têm as mesmas insatisfações profundas em relação a si próprias, tal como as que sofrem de anorexia nervosa.
Partilham a preocupação com o peso e a imagem corporal e julgam o seu valor pelo aspeto que pensam ter.
São normalmente muito severas na crítica a si próprias e sofrem de baixa autoestima.
Têm, em geral, um peso normal, podendo, assim, as suas dificuldades alimentares passar despercebidas aos outros, ao contrário da perda óbvia de peso que acompanha a anorexia nervosa.
As pessoas com bulimia nervosa podem, aparentemente, não ter a tendência perfecionista normalmente associada à anorexia nervosa, mas revelam uma maior tendência para se envolverem em comportamentos de risco, como o consumo de drogas, excesso de álcool e sexo sem proteção.
Estes comportamentos estão quase sempre relacionados com sentimentos de antipatia por si próprias e a sensação de ter perdido o controlo.
A bulimia nervosa é rara antes da adolescência, aumentando a sua incidência com a entrada na adolescência.
3. Compulsão alimentar (Binge Eating)
Em muito semelhante à bulimia , sobretudo pelo facto em que ocorre excesso alimentar de forma persistente.
Contudo, ao contrário da bulimia, a alimentação desequilibrada existe habitualmente há muito tempo e não há distorções ao nível da perceção do corpo e do peso.
É a única doença do comportamento alimentar em que a pessoa tem peso a mais.
A ingestão alimentar compulsiva caracteriza-se então pela procura voraz de comida, pela ingestão mais rápida do que é habitual de grandes quantidades de comida, podendo comer a qualquer hora do dia ou da noite.
Muitas vezes comem às escondidas.
Parecem ter uma ânsia pela comida, especialmente se estiverem ansiosas ou infelizes.
Estes episódios tendem a ser desencadeados devido a alterações de humor, tensões emocionais ou problemas diários, funcionando esta ingestão de comida como um ansiolítico que tem como função a estabilização emocional.
Resumindo, as características típicas de uma doença alimentar passam pela visão distorcida do próprio corpo, uma opinião muito negativa de si própria, para além da alimentação anormal e inadequada.
Ou seja, uma alimentação anormal e desequilibrada é apenas um dos aspetos das doenças alimentares.
O Pedido de Ajuda
“Como te vês? Como achas que os outros te veem? Como gostarias de ser?”
É neste sentido que surge a Psicologia, como uma forma de a apoiar no controlo do comportamento alimentar, definir metas, lidar com as dificuldades, distinguir a fome do que é apenas vontade de comer, gerir as emoções e, essencialmente, trabalhar e promover a motivação para a mudança.
A psicoterapia começa por ajudá-la a compreender o contexto interpessoal no qual os problemas alimentares ocorrem.
Permite analisar os pensamentos enviesados, as crenças que desenvolvemos sobre nós próprios e que nos limitam, que nos impedem de ver as coisas numa outra perspetiva.
E será exatamente a capacidade de aprender a colocar-se em perspetiva, a analisar-se através de uma nova e diferente forma de olhar, na presença apoiante da terapeuta, que permitirá desmontar essa visão distorcida que tanto nos causa mal-estar.
Recorde-se de que a sua prioridade máxima deverá ser a sua saúde e felicidade.
Estou aqui para a ajudar a encontrar o seu equilíbrio.
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