Fazer Vs. Ser - A Luta de Titãs
PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA DE ADULTOSANSIEDADEDESENVOLVIMENTO PESSOAL
Dra. Margarida Tomás
9/2/20243 min read
Neste mês de Setembro, que à semelhança da passagem de ano é interpretado por muitos como a altura dos recomeços, proponho-me a falar sobre a onda na qual temos vindo a ser engolidos e que se torna maior, mais evidente e esmagadora a cada ano que passa.
ARTIGO DESENVOLVIDO POR
Dra. Margarida Tomás
Agora coloco-lhe a seguinte questão: quantas vezes tem esta sensação de tranquilidade nos seus dias? Quantas vezes costuma parar tudo o que está a fazer por uns minutos e simplesmente ser? Focar apenas na respiração e observar o que se passa à sua volta?
Façamos um pequeno exercício de reflexão. Suscite o cenário que para si o deixa a sentir mais tranquilo. Ênfase na palavra sentir, nesta bússola da experiência sensorial que constrói uma vivência corporal de calma e segurança. Podem ser cenários que recorrem a pequenos detalhes que muitas vezes passam despercebidos, tais como sentir:
Talvez seja esse espaço momentâneo de suspensão que nos pode permitir ver um pouco daquilo que nos rodeia atualmente. Vivemos numa sociedade em que uma das principais palavras-chave é “aceleração”. Uma sociedade de rapidez, de pressa, de corrida. Sobretudo, uma sociedade na qual se debatem duas grandes forças e uma delas sai permanentemente vencedora - o domínio do ‘fazer’ sobre o ‘ser’.
Fazendo alusão às conhecidas expressões “tempo é dinheiro” ou “parar é morrer”, a medida dominante do nosso tempo atual é a produtividade, o sucesso, os números. São estes parâmetros que prendem o nosso olhar a um ponto futuro para o qual corremos em busca de algo que nos escapa continuamente por entre os dedos. Que muitas vezes provoca uma sensação de falta de ar, de exaustão, de insuficiência, de incapacidade.
Hoje em dia parece não existir espaço para olharmos para dentro, para nos conhecermos melhor e podermos crescer. Em vez disso deparamo-nos então com uma missão interminável por algo sem nome ou forma e que nos deixa dispersos no meio de tanta informação. O tempo em que vivemos reúne as condições ideais para fugirmos de nós próprios. Um exemplo disto são as redes sociais, onde diariamente se constroem representações fictícias que cada um acredita que será mais apelativo e cativante ao olhar do outro. Acabamos por ser todos agentes a propagar a mensagem de que é possível fazer tudo a todo o momento e que nunca escorre uma gota de suor nesse percurso. Talvez a possibilidade de simplesmente ‘ser’ (de encontrar momentos no nosso dia para nos ouvirmos, para não fazer nada, para olhar em volta), seja extremamente assustadora. Talvez se possa pensar na existência de um medo que os outros nos abandonem se perceberem que estamos a remar numa direção diferente; ou um receio de que ao olhar para dentro nos deparemos com um perfeito desconhecido – com um vazio e solidão que duvidamos ter as ferramentas para enfrentar.
o toque da areia nos pés
o cheiro de um pão acabado de fazer
o calor do sol na pele
(as opções são infinitas)
Quase como se estivéssemos presos num pesadelo. Chegámos a um ponto em que estas ideias estão tão enraizadas e transmitidas inconscientemente, que é extremamente fácil deslizar para as suas garras sem qualquer perceção.
Iniciar um processo psicoterapêutico é contrariar esta onda de aceleração. Tal como referido pela psicanalista Galit Atlas, a psicoterapia obriga-nos a abrandar e a examinar as nossas vidas. Obriga-nos a substituir a ação, o movimento e a velocidade, pela reflexão. O espaço das consultas fornece as condições para parar, criando uma espécie de bolha protetora de silêncio das exigências e pressões do mundo externo. Dá-se, desta forma, um confronto entre o processo psicoterapêutico e a velocidade a que a sociedade pretende avançar e que não deixa espaço para ser e viver. Enquanto tudo à nossa volta nos impele na direção de correr em busca de respostas rápidas e soluções mágicas universais, a psicoterapia respeita a complexidade e ritmo de cada indivíduo. Permite encontrar respostas em conjunto para seguir um caminho diferente.
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