Adolescência: A passagem da Redline a Borderline

A adolescência, não sendo o berço da patologia borderline, constitui-se como a expressão mais visível desta patologia, ainda que deva ser vista como um processo emocional dinâmico caracterizado pela busca da identidade, pelo desenvolvimento da autonomia e pelo delicado jogo de separação-individuação em relação aos pais, no qual os pares e o meio social têm um particular peso enquanto referencial identificatório.

ARTIGO DESENVOLVIDO POR

Dr. Luís Chincalece

Neste percurso existencial típico, o contexto familiar deixa de ser o principal eixo dos jovens, observando-se uma abertura aos demais e exploração das vastas potencialidades da sua vida, o que, naturalmente, cria tensões, conflitos, desafios e instabilidade do ponto de vista emocional e relacional, sendo fundamental a existência de uma base segura e de confiança para o maior ou menor sucesso de tal caminho.

Observamos na adolescência o despoletar, ou o agravar, de um conjunto de características típicas ligadas à instabilidade emocional e comportamental que carecem de uma visão compreensiva e não necessariamente patologizante, em que devemos tentar adotar uma atitude para lá do sintoma e para lá do comportamento, procurando a raiz emocional e o substrato individual e contextual que lhe deram origem.

Vivemos atualmente numa era de fast lane digital complexa e com intensos e inúmeros desafios e oportunidades que é muitas vezes sentida pelo adolescente como avassaladora e geradora de ansiedade, que, por vezes, também pode levar a estados emocionais de pânico e de sentimentos de ser incapaz de responder às exigências com que se deparam.

Estamos perante uma importante fase da construção da identidade e individualidade do adolescente, sendo que devemos estar particularmente atentos aos diversos potenciais comportamentos de risco que tendem a surgir neste período, tornando-se importante que se consiga definir as ténues redlines entre a normalidade da turbulência, ou, por vezes, a aparente calmaria da depressão patológica instalada.

Não obstante, encontramos também na adolescência os indicadores da edificação de uma perturbação de personalidade borderline, nomeadamente um padrão de instabilidade relacional, uma autoimagem negativa, dificuldade na gestão das suas emoções e dos seus impulsos, alterações de humor frequentes, presença de uma angústia de abandono intensa, perturbações e instabilidade na construção da identidade, sentimentos crónicos de vazio ou de falta de sentido e potenciais sintomas dissociativos.

Torna-se, então, essencial intervir na presença destas redlines, procurando prevenir a estruturação da personalidade numa linha borderline, sendo para tal fundamental uma intervenção psicoterapêutica compreensiva e estruturada para acolher as dificuldades individuais e promover o desenvolvimento de estratégias que sejam personalizadas e pensadas em função do sofrimento dos jovens.

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Encontramos como exemplos de manifestações redlines a existência de comportamentos de natureza autodestrutiva, que deverão ser vistos sempre como graves e indicadores de estados emocionais de sofrimento psíquico intensos. Dentro desta esfera podemos também incluir os comportamentos aditivos, sejam drogas ou outros, os problemas de socialização, que se podem apresentar através da conflitualidade, labilidade, irritabilidade ou, pelo contrário, na inibição, retraimento ou fuga relacional.

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