A Depressão Pós-Parto e as Suas Implicações

2/26/20244 min read

A chegada de um bebé acarreta um leque de mudanças na vida de quem tem a função de ser o seu cuidador principal ou parental. No caso específico da mulher e mãe, para além das novas responsabilidades, ela estará a lidar com as sequelas físicas e emocionais da gravidez e do parto. Há dúvidas, medos, sobrecarga e fadiga, à mistura com sentimentos transbordantes de carinho e afeto, todas consideradas normais neste contexto.

ARTIGO DESENVOLVIDO POR

Dra. Miriam Pires dos Santos

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A Intervenção Psicológica é Fundamental para superar esta condição

Quando os sintomas persistem para além das duas semanas, durando até aos 4 meses ou até um ano, podemos estar perante uma depressão pós-parto, sendo este, um quadro depressivo com características específicas.

A gravidez e o parto constituem acontecimentos importantes que acarretam transformações físicas, psicológicas e até sociais na vida da mulher, especialmente se tratar de um primeiro filho. Há uma transição profunda do ponto de vista desenvolvimental, para outra etapa da vida, com a introdução da tarefa maternal e parental. Implicam alterações corporais e mentais, em que há a necessidade de criar um espaço para cuidar de um ser que irá depender totalmente de si, numa fase inicial da vida. Com a chegada dos seguintes filhos, em princípio não haverá uma mudança tão acentuada, mas não impede que sejam sentidas dificuldades, visto a mãe e o pai estarem já com uma tarefa de parentalidade em curso e complexificada com a chegada de outro bebé, que pode ser mais exigente do ponto de vista da regulação do sono, alimentação ou da regulação emocional.

Nesta fase, podem ocorrer perturbações diversas, entre elas o “baby blues” que é considerada uma forma mais ligeira nos quadros psicológicos do pós-parto, tem início nos primeiros dias do puerpério e tende a atingir o auge no 5º dia. Estes sintomas incluem labilidade emocional, sentimentos de estranheza, irritabilidade e choro fácil. Estas manifestações tendem a desaparecer num período de 2 semanas, dependendo da condição de saúde mental prévia, do suporte emocional e auxílio nos cuidados com o lactente.

Os sintomas de depressão pós-parto podem incluir sentimentos de tristeza, sensação de vazio, perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração do sono, agitação ou lentificação psicomotora, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade de concentração ou de toma de decisões. Nos casos mais graves, podem surgir pensamentos e discurso de desistência de vida. Outro sintoma comum, é o embotamento afetivo, que se apresenta como uma sensação de não conseguir sentir emoções e sentimentos face ao bebé.

Embora seja provocado por causas multifatoriais, algumas são preponderantes, como as alterações hormonais, emocionais, a privação de sono, e condição conjugal. Outros fatores de risco incluem o histórico pessoal - personalidade e saúde mental prévia à gravidez - ou familiar de depressão, parto traumático, dificuldades socioeconómicas, rede de apoio social e familiar reduzidas.

A depressão pós-parto pode ter sérias consequências para a mãe, para o desenvolvimento do bebé e para a família como um todo. Pelo potencial impacto negativo, é uma condição de saúde que deve ser tratada, pela intervenção psicológica e se necessário farmacológica para alívio dos sintomas e promover o bem-estar emocional.

Ser mãe e ou pai, é uma jornada desafiadora e ninguém deve enfrentá-la de forma isolada. Recorrer a um profissional de saúde mental é essencial para recuperar o seu equilíbrio emocional, para que disfrute em pleno da maternidade e parentalidade.

A Depressão pós-parto - Sinais de Alerta e as suas Causas

Na prática muitas vezes passa despercebida e recorrem à ajuda psicológica mulheres com sintomatologia depressiva não diagnosticada, desencadeada no período pós-parto e não tratada. Algumas manifestações de perturbação de comportamento ou de ansiedade em crianças podem ser consequências também da depressão pós-parto não diagnosticada nem tratada numa fase mais precoce. Há risco de deixar a situação arrastar-se no tempo, pois as mães frequentemente dão prioridade às exigências do bebé, relevando para segundo plano o seu tratamento. Entretanto, na rede social e familiar pode ocorrer uma desvalorização dos sintomas, acentuando os sentimentos de culpabilidade no seu papel como mãe, por supostamente ser um período de apenas alegria e exaltação. De certa forma, ainda prevalece na nossa sociedade o mito do instinto maternal, como forma mágica de superar todos os desafios da maternidade e parentalidade.

Se não for adequadamente tratada, há um risco de a depressão pós-parto instalar-se e evoluir para um quadro depressivo, ou cristalizar-se no funcionamento da mulher como uma distimia, que se trata de um quadro depressivo persistente - significa que pode até desenvolver estratégias para funcionar no seu quotidiano, mas sem recuperar por completo o seu bem-estar mental.

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