A Confiança – elemento-chave para a construção da relação terapêutica
Dra. Margarida Tomás
12/12/20234 min read
A psicoterapia trata-se de um caminho em conjunto. Não existe psicoterapia se estiver apenas o psicólogo, da mesma forma que não existe se o paciente for a única figura presente. É no encontro entre as duas pessoas – aquela que procura ajuda e/ou autoconhecimento; e aquela que está presente, que escuta de forma atenta e que possui as ferramentas profissionais para ajudar – que o crescimento e a mudança encontram um solo fértil onde crescer. É inegável a importância da relação terapêutica estabelecida entre o terapeuta e o paciente. Uma das especificidades inerentes à relação terapêutica (podendo até ser considerada uma condição obrigatória) é a confiança.
ARTIGO DESENVOLVIDO POR
Dra. Margarida Tomás
“sermos confiantes também implica que sejamos capazes de suportar a ausência e, para isso, precisamos de ter sentido uma presença forte.”
Márcia Arnaud
No início da vida, a construção da confiança encontra-se entrelaçada com a previsibilidade, no sentido em que quando a mãe demonstra repetidamente ao seu bebé a sua sensibilidade, reconhecendo e satisfazendo as necessidades do mesmo, o bebé começa aos poucos a reconhecer e conseguir prever os acontecimentos. Quando existe confiança, o bebé pode descansar com a crença de que se precisar, a mãe irá estar presente para o ajudar. Remetendo à citação acima, é nisto que consiste a existência de uma presença forte. Assim, a mãe mostra ao seu bebé que é confiável de forma silenciosa, num jogo de movimentos anteriores à comunicação verbal, à utilização de palavras.
Donald Winnicott, pediatra e psicanalista, perspetivava a confiabilidade como um fator fundamental. De acordo com este autor, a presença da confiabilidade nos primeiros momentos de vida e a sua repetição nas várias experiências ao longo do desenvolvimento exerce um impacto direto na construção da identidade, da visão do próprio e do mundo à sua volta. Mas em que consiste a confiabilidade? De que forma se concretiza? Após uma pesquisa rápida pelo dicionário Priberam, que porventura o leitor do presente texto poderá também ter feito, descobre-se que a confiabilidade consiste na “qualidade do que é confiável, do que é digno de confiança”. Mas será que esta é uma resposta completa / suficiente para as questões acima? Talvez existam muitas coisas na nossa vida que não podem ser compreendidas, esclarecidas ou resolvidas com respostas rápidas, por mais que nos tentem convencer do contrário.
O conceito de confiabilidade é difícil de colocar no concreto visto que se trata de algo que ultrapassa as palavras. Podermos dizer que confiamos em alguém ou “classificarmos” uma pessoa como confiável não está relacionado com uma ação ou comportamento específico que essa pessoa execute num dado momento. Pelo contrário, o estabelecimento da confiança é realizado nas entrelinhas, nos atos silenciosos na comunicação com o outro. Como a confiança é fomentada desde o nascimento, recuemos até à infância, nomeadamente, à relação do bebé com a sua mãe. A confiabilidade não tem a ver com ações específicas da mãe para com o bebé, tais como: dar-lhe banho, mudar-lhe a fralda, amamenta-lo, entre outros. Está sim relacionada com o modo como a mãe satisfaz as necessidades do seu bebé – com a sua sensibilidade para estar sintonizada com o bebé e perceber do que é que este precisa, respondendo à necessidade identificada no momento certo.
Quando não há possibilidade de o bebé construir confiança no contexto das suas primeiras relações, isso reflete-se ao longo do seu desenvolvimento através de dificuldades na proximidade e intimidade no relacionamento com outros. Há um receio subjacente de que a aproximação a uma pessoa só irá levar ao sofrimento e à confirmação de que não se pode confiar em ninguém. Acaba por reinar a sensação de perigo e a necessidade de alerta para a possível destruição que o outro possa causar.
“(...) não ter em quem confiar é caminhar no ar, caminhar na fragilidade das nuvens que se podem desfazer a cada passada.”
- Márcia Arnaud
Fazendo uma ponte para a psicoterapia, é essencial que a relação estabelecida no contexto terapêutico tenha como base a confiança. Isto significa que deve existir uma sensibilidade por parte do terapeuta para detetar quais as necessidades do paciente e ajustar a sua intervenção em função dessas mesmas necessidades. A previsibilidade também se inclui neste processo, onde existe um espaço físico fixo para onde o paciente se dirige com uma regularidade fixa e num dia e hora que são dedicados para si. Seja na relação terapêutica ou noutra qualquer relação, a confiabilidade não significa uma ausência de falhas. As falhas fazem parte do processo da construção da confiabilidade desde que sejam ocasionais (e não recorrentes); que ocorram num ambiente reconhecido como genuíno; e onde exista o espaço e a disponibilidade para o reconhecimento e reparação das mesmas. Para terminar, nos casos em que não existiram condições ao longo da vida para a construção da confiabilidade, é importante que através do processo terapêutico se regresse ao passado e se aborde as bases da confiança. É necessário construir um chão sólido, para depois ser possível crescer.
Leituras Recomendadas
- Livro: ‘Mente Entre Aberta’ de Márcia Arnaud
- Artigo: ‘Sobre a confiabilidade: decorrências para a prática clínica’ de Elsa Oliveira Dias
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